segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Entrevista: Bonaventure, uma escola libertária - Parte I


Bonaventure, uma escola libertária - Parte I


Thyde Rosel é um dos criadores de Bonaventure, e conta aqui um pouco da história dessa escola, que se confunde com tantas outras experiências libertárias no campo da educação.

_Agência de Notícias Anarquistas > Conte como nasceu Bonaventure.
Bonaventure < Thyde Rosel e Jean-Marc Raynaud tiveram a iniciativa de criar uma creche autogestionária na ilha d'Oléron, com um grupo de trabalho local composto por pais e professores da creche. Aí começamos a pensar sobre a criação de uma escola libertária. Foi escrito um projeto e divulgado no movimento libertário francês. Participamos de mais ou menos cinqüenta conferências para apresentar o projeto. Como tínhamos o apoio do movimento libertário e alternativo, abrimos a escola em 1993, em d'Oléron, já que não havíamos encontrado nenhum grupo capaz de fazer isso em outro lugar.
ANA > Quantas crianças estudam em Bonaventure?
Bonaventure < Atualmente uma dezena de crianças, com idade entre 3 e 11 anos. E mais um/a professor/a, um/a animador/a, os pais, os membros da associação (uma centena), os membros da rede e todos/as os que apóiam o projeto a qualquer nível.
ANA > Qual o perfil dos pais das crianças que estudam em Bonaventure?
Bonaventure < Existem famílias que não tem escolha: crianças com dificuldades recusadas pela escola dita normal (2 por ano). Há famílias descontentes com o sistema educacional, motivadas por sua raiva e sua decepção (famílias locais muito pouco politizadas, 3 ou 4 por ano). Há poucas famílias libertárias (1 por ano). Existem as famílias politizadas, ecologistas, alternativas etc. (2 ou 3 por ano). Uma ou duas famílias marginalizadas, mas que as crianças vão muito bem aqui. Duas ou três famílias convencidas pela pedagogia de Bonaventure, que nos acompanham nos encontros e participam das reuniões comuns.
ANA > Há quanto tempo começaram?
Bonaventure < Como havíamos dito, a abertura da escola aconteceu em 1993, mas o projeto começou em 1992. As aulas foram interrompidas no período de 2001-2002, por causa de problemas administrativos. Bonaventure nunca solicitou ter a condição de escola privada. Mas desde três anos atrás, o Estado francês, no marco da sua luta contra as seitas "redefiniu" a lei escolar francesa. Fomos obrigados a pedir a condição de escola privada, mas como não pagamos os professores, estes são professores da escola pública francesa que trabalham em Bonaventure dois ou três anos e retomam seu posto na escola do Estado. Para abrir uma escola privada é necessário ter um diretor "acreditado". Se um professor que vem da escola pública se converte em diretor de uma privada, perde seu posto... e como não podemos pagá-lo, não podemos abrir. Os representantes da escola do Estado nos vigiam e vem com regularidade na escola, para ver se estamos cometendo alg uma ilegalidade. No momento não temos encontrado nenhuma solução, já que não contamos com o suficiente apoio do exterior (movimento alternativo ou libertário) para pagar um responsável pedagógico.
ANA > O que mais vocês fazem na escola?
Bonaventure < Neste ano organizamos cafés-filosóficos e animamos uma rede de intercâmbio de conhecimentos. No ano que vem inauguraremos sessões culturais: teatro, música... Faremos também cursos de alfabetização e organizaremos classes para os jovens que já não estão escolarizados. Também animamos um grupo de reflexão sobre educação e participamos de trabalhos educativos franceses e internacionais.
ANA > Possuem local próprio?
Bonaventure < Sim, temos uma casa que construímos em menos de dois meses, num mutirão libertário internacional, onde nenhum dos participantes sabia manejar uma palha. Isso nos trás boas lembranças! A casinha tem 100m², o material pesado (o primeiro computador, a copiadora e o micro-ônibus) foi comprado graças às assinaturas. Muito material foi oferecido. Tudo é propriedade coletiva da associação.
A escola fica na ilha d'Oléron, em Charente Maritime, uma cidade de 20.000 habitantes, com uma taxa de precariedade equivalente ao dos mineiros do Norte (Lille) e de Marseille.
ANA > Financeiramente, como funciona Bonaventure?
Bonaventure < A construção da escola e sua habilitação foram financiadas através da venda de partes da propriedade a 500 francos. Gastos pedagógicos, salários, eletricidade... são financiados através de assinaturas (correntes de apoio, doações...) e através da venda de produções de Bonaventure (folhetos, livros, adesivos, criações das crianças, cartazes...). A escolarização é gratuita, somente é obrigatória a adesão na associação.
ANA > Qual a dinâmica pedagógica de Bonaventure? Existem provas? Quais as disciplinas?Bonaventure < Bonaventure funciona sobre o modelo de uma classe única de pedagogia Freinet, mesclando nas classes idades e níveis. A escolarização se leva a cabo com base nos ritmos de aprendizagem fundamentais das crianças. Cada ciclo é trabalhado com projetos elaborados conjuntamente pelas crianças e os educadores, como um contrato. Durante e ao final de cada contrato, existem auto-avaliações que é exercida pelo próprio aluno, e uma pelo grupo. A escola, em conjunto, se avalia permanentemente através do "A.G.", e são avaliados também externamente por uma comissão chamada "de olhar exterior", formada por sociólogos, psicólogos, professores/as... que simpatizam com o projeto, mas não participam dele diretamente.
É distribuído material "tradicional" pela manhã; atividades artísticas, desportivas, manuais... pela tarde.
A participação na vida institucional da escola e sua gestão (autogestionária) fazem parte do processo educativo (aprendizado da cidadania) e por isso, se submete a avaliação.
O curso escolar, assim como a vida na escola, se efetua ao ritmo de acompanhamento, de ajuda mútua. Nos projetos, Bonaventure efetua regularmente visitas a diferentes estruturas (agrícolas, econômicas, culturais, sociais...) alternativas.
No final do período escolar, Bonaventure prepara as crianças para a entrada no colégio e, em caso de partida, antes que isso ocorra, ela é preparada para o retorno à norma escolar.
ANA > Vocês utilizam a televisão, computador, internet... como ferramentas pedagógicas?
Bonaventure < Nós não utilizamos bastante, como eu gostaria. Somente para trabalhos escritos para o jornal das crianças e correspondência escolar, trabalhos escolares com programas de informática, utilização de filmes relacionados aos assuntos tratados em sala.
ANA > Existe algum livro que conte a experiência de Bonaventure?
Bonaventure < Sim, existem três. "L'avant-projet: Bonaventure une école libertaire, pourquoi, comment", de Thyde Rosell e Jean-Marc Raynaud, já esgotado; "Bonaventure une école libertaire collectif", balanço de uma república educativa; e "La farine et le son", uma obra coletiva.
ANA > Existem outras escolas libertárias na França?
Bonaventure < Não, mas Bonaventure abrirá uma segunda escola na França, em Besançon. No começo será uma rede de intercâmbio de conhecimentos, sessão de alfabetização e, em dois ou três anos, uma escola libertária.
ANA > Vocês têm contato com a Escola Livre Paidéia, da Espanha?
Bonaventure <>

Retirado de: "
http://www.ainfos.ca/" ________________________________________________

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