terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Hmm (parte 2)

E o toque?
E esse frio...
Coador!

chiste

Em prol
d'eu
põe páprica
pra dedéu,
no quitute.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Herbin Hoyos Medina

Entrevista da 2ª/Herbin Hoyos Medina

Radialista que leva mensagens de familiares a reféns defende direitos políticos para as Farc e diz haver 4.200 pessoas em cativeiro na Colômbia

"Um seqüestrado sem alento, quer a morte"

LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS

UM DOS MAIS profundos conhecedores do drama do seqüestro na Colômbia é o jornalista Herbin Hoyos Medina, 38. Há 14 anos, ele transmite o programa semanal de rádio "Vozes do Seqüestro", em que familiares dirigem mensagens de apoio a seus parentes seqüestrados. Importante para manter elevado o ânimo dos reféns, os seqüestradores permitem que os programas sejam acompanhados pelos cativos.

A esperança de ficar um pouco mais perto dos cativos já levou mais de 15 mil familiares de reféns a gravar mais de 320 mil mensagens de ânimo para o programa de rádio "Vozes do Seqüestro". Clara Rojas e Consuelo González, recém-libertadas pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), fizeram questão de agradecer a seu criador por manter as "Vozes" e de atestar a importância do programa para que a esperança da libertação não as abandonasse.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista que Herbin Hoyos concedeu à Folha no lobby do Hotel Gran Meliá Caracas, aonde foi para receber Rojas e González, entregues pela guerrilha ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, no último dia 10.

FOLHA - Como o senhor teve a idéia de criar um programa de rádio para seqüestrados?
HERBIN HOYOS - O programa "Vozes do Seqüestro" surgiu em 1994. Nessa época, eu trabalhava na rádio Caracol [da Colômbia]. A guerrilha havia me seqüëstrado para me obrigar a difundir um comunicado contra o governo. Durante dois dias de caminhada, passamos por abismos e penhascos até que chegamos a um acampamento guerrilheiro, onde, sob uma barraca de plástico, estava um homem de uns 60 anos, muito magro, barbado. Ele tinha uma corrente presa à mão direita. No outro extremo, a corrente estava amarrada a uma árvore e puxava a mão dele para fora da barraca. Quando chovia, a mão ficava branca como se fosse de um cadáver.
Pois bem, esse homem tinha um radinho que ligava e desligava a cada hora. A surpresa foi quando ele sintonizou a rádio onde eu trabalhava e me perguntou: "Por que vocês jornalistas não fazem nada por nós?" Nesse instante, vi que tinha de fazer algo pelos seqüestrados.

FOLHA - Quantos seqüestrados existem hoje na Colômbia?
HOYOS - Existem duas cifras: a oficial e a que maneja a organização "Vozes do Seqüestro". O Estado diz que há 735 seqüestrados. Digo que há 4.200.

FOLHA - Por que a diferença?
HOYOS - Porque a guerrilha, quando seqüestra uma pessoa, ameaça a família para que não denuncie ao Estado. Diz que, se for denunciada, o preço do resgate será três vezes maior -e será mesmo. Resultado: a maioria das famílias não denuncia, e o governo não computa esses seqüestros.

FOLHA - Só as Farc seqüestram?
HOYOS - Não. Também existem os seqüestros feitos pelo ELN [Exército de Libertação Nacional] e os cometidos por bandidos comuns. Esses bandidos, quando extorquem as famílias, dizem pertencer às Farc, ao ELN ou ainda às AUC [grupo paramilitar Autodefesas Unidas da Colômbia], sem sê-lo, para imprimir medo.

FOLHA - Não há relação entre os guerrilheiros e os bandos de delinqüentes?
HOYOS - A maioria dos seqüestros da década de 90 nas cidades era feita por bandos que vendiam suas vítimas para a guerrilha. Mas acabou havendo um descontentamento porque os bandos seqüestravam, arriscavam-se em uma cidade superpoliciada, e a guerrilha pagava a eles apenas US$ 10 mil ou US$ 20 mil, por seqüestrados de famílias dispostas pagar US$ 500 mil pelo resgate. O resultado foi que essas quadrilhas passaram a querer ir até o fim do processo.

FOLHA - O que é pior para o refém?
HOYOS - Essas quadrilhas não têm a infra-estrutura que tem a guerrilha para reter os seqüestrados. Não conseguem fazer como os guerrilheiros, capazes de andar 400 quilômetros ao longo de três departamentos [Províncias] sem que ninguém os ache. As quadrilhas preferem a imobilidade. Amarram o seqüestrado pelos pés e mãos em um apartamento ou casa na cidade, ou o deixam sob uma cama, às vezes por semanas. Já aconteceu de um seqüestrado ser encontrado com o corpo coberto por sanguessugas depois de imobilizado por muitos dias. Cair nas mãos de uma quadrilha dessas é mais arriscado.

FOLHA - Por que os seqüestradores permitem que os reféns escutem seu programa de rádio?
HOYOS - O programa transmite fé, esperança, otimismo. É comum que seqüestrados entrem em um processo de ensimesmamento, em uma negação do que está vivendo, em um quadro depressivo profundo. Muitos não conseguem comer -como Ingrid Betancourt [ex-candidata à Presidência da Colômbia, seqüestrada há seis anos].
E um seqüestrado sem alento, enfraquecido, não consegue caminhar, quer que o matem, desafia os guerrilheiro. Isso constitui-se em um problema para a guerrilha, que precisa dos seus reféns para a chantagem política ou para a extorsão financeira. Um seqüestrado que escute a mãe dizendo-lhe pelo rádio "Filho, te amo muito, estou te esperando", ou a mulher informando "Meu amor, nosso filho está crescendo", esse seqüestrado quererá viver.

FOLHA - O que o senhor acha da proposta do presidente Hugo Chávez de reconhecer as Farc como "força insurgente", retirando-as da caracterização de "terrorista"?
HOYOS - O que significa uma mudança dessa natureza? Que as Farc podem buscar representação diplomática em um país vizinho. Que podem ter um controle territorial delimitado e reconhecido por outro país. Que podem ter um controle político e social desse território. O que o presidente Chávez não entende é que está propondo indiretamente ao governo que abra a possibilidade de as Farc fracionarem o território colombiano. Isso não passou nunca pela cabeça dos colombianos. Eu sou favorável a que as Farc adquiram direitos políticos, inclusive que disputem eleições. Que se faça o debate democrático e não uma concessão ao terror.

FOLHA - Como se deve tratar o seqüestro na imprensa?
HOYOS - A prioridade tem de ser a vida. Depois a informação. Por exemplo: uma coisa é dizer que um hipotético Carlos Rodrigues foi seqüestrado por um grupo de quatro jovens que estavam armados com revólveres e que o interceptaram na rua X esquina com a Y, levando-o em uma carro preto da marca tal, placas tal e tal. Isso está perfeito. Outra coisa é dizer que seqüestraram o industrial Carlos Rodrigues, proprietário da rede de lojas X, com uma fortuna pessoal avaliada em Y. Isso está errado. Quase sempre a imprensa dá a notícia do seqüestro e, depois, o perfil econômico do seqüestrado.
Não é raro que seqüestradores capturem uma pessoa sem as informações completas sobre de quem se trata. Às vezes, escolhem-na porque tem um carro caro ou uma casa de bom tamanho.
Agora, se a imprensa fornece aos seqüestradores todo o perfil econômico do cativo, um resgate que custaria US$ 50 mil passa para US$ 2 milhões. Em muitos casos, os jornalistas devem se abster de informar. Se a notícia pode fazer com que os bandidos aumentem o preço do resgate, melhor não dar. Se contribui para que o matem, melhor não dar. Se contribui para que os seqüestradores fujam, melhor não dar.

FOLHA - Os seqüestrados colombianos sempre reclamam de uma suposta indiferença da população para com seu destino.
HOYOS - É preciso que os governos comecem a promover a cultura da denúncia contra o seqüestro. É preciso promover a solidariedade com os seqüestrados e uma atitude social maciça contra o seqüestro, de modo que o seqüestrador saiba que, se capturar uma pessoa, nas ruas os pedestres vão apontá-lo, os taxistas vão correr atrás. O seqüestrados não podem fazer nada, por temer a morte. Mas a população pode fazer muito. No dia em que os seqüestradores souberem que o crime não será fácil, porque a cidadania está preparada para enfrentar o crime hediondo, eles pensarão duas vezes. Hoje, seqüestram porque sabem que a maioria das pessoas é indolente, indiferente, que não se importa com o que está passando o outro. Contam que as pessoas até lhes abrirão o caminho.

FOLHA - Por que essa cultura de denúncia não funciona na Colômbia?
HOYOS - Funciona, sim. Há muitas denúncias. A Colômbia talvez seja o país que mais sabe de seqüestros no mundo. Somos "experts". Se seqüestram uma pessoa, em três minutos são fechadas todas as saídas da cidade. O jeito para os seqüestradores é matar ou soltar a pessoa -na maioria dos casos, soltam-na. É por isso que a guerrilha agora prefere seqüestrar fora dos grandes centros.

FOLHA - As reféns Clara Rojas e Consuelo González, ao serem soltas, fizeram questão de agradecer o apoio recebido do seu programa...
HOYOS - Eu não posso viver do reconhecimento. Sei que o seqüestrado que hoje me agradece será o que preferirá me esquecer amanhã. Amanhã, tudo o que o seqüestrado quererá é esquecer a tragédia que lhe sucedeu e da qual, sem dúvida, acabei tornando-me parte. É preciso esquecer para continuar a viver. Assim tem de ser.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Hmm

E essa dor,
quem a sente
senão a sua mente? Prisma!

Entrevista: Bonaventure, uma escola libertária - Parte I


Bonaventure, uma escola libertária - Parte I


Thyde Rosel é um dos criadores de Bonaventure, e conta aqui um pouco da história dessa escola, que se confunde com tantas outras experiências libertárias no campo da educação.

_Agência de Notícias Anarquistas > Conte como nasceu Bonaventure.
Bonaventure < Thyde Rosel e Jean-Marc Raynaud tiveram a iniciativa de criar uma creche autogestionária na ilha d'Oléron, com um grupo de trabalho local composto por pais e professores da creche. Aí começamos a pensar sobre a criação de uma escola libertária. Foi escrito um projeto e divulgado no movimento libertário francês. Participamos de mais ou menos cinqüenta conferências para apresentar o projeto. Como tínhamos o apoio do movimento libertário e alternativo, abrimos a escola em 1993, em d'Oléron, já que não havíamos encontrado nenhum grupo capaz de fazer isso em outro lugar.
ANA > Quantas crianças estudam em Bonaventure?
Bonaventure < Atualmente uma dezena de crianças, com idade entre 3 e 11 anos. E mais um/a professor/a, um/a animador/a, os pais, os membros da associação (uma centena), os membros da rede e todos/as os que apóiam o projeto a qualquer nível.
ANA > Qual o perfil dos pais das crianças que estudam em Bonaventure?
Bonaventure < Existem famílias que não tem escolha: crianças com dificuldades recusadas pela escola dita normal (2 por ano). Há famílias descontentes com o sistema educacional, motivadas por sua raiva e sua decepção (famílias locais muito pouco politizadas, 3 ou 4 por ano). Há poucas famílias libertárias (1 por ano). Existem as famílias politizadas, ecologistas, alternativas etc. (2 ou 3 por ano). Uma ou duas famílias marginalizadas, mas que as crianças vão muito bem aqui. Duas ou três famílias convencidas pela pedagogia de Bonaventure, que nos acompanham nos encontros e participam das reuniões comuns.
ANA > Há quanto tempo começaram?
Bonaventure < Como havíamos dito, a abertura da escola aconteceu em 1993, mas o projeto começou em 1992. As aulas foram interrompidas no período de 2001-2002, por causa de problemas administrativos. Bonaventure nunca solicitou ter a condição de escola privada. Mas desde três anos atrás, o Estado francês, no marco da sua luta contra as seitas "redefiniu" a lei escolar francesa. Fomos obrigados a pedir a condição de escola privada, mas como não pagamos os professores, estes são professores da escola pública francesa que trabalham em Bonaventure dois ou três anos e retomam seu posto na escola do Estado. Para abrir uma escola privada é necessário ter um diretor "acreditado". Se um professor que vem da escola pública se converte em diretor de uma privada, perde seu posto... e como não podemos pagá-lo, não podemos abrir. Os representantes da escola do Estado nos vigiam e vem com regularidade na escola, para ver se estamos cometendo alg uma ilegalidade. No momento não temos encontrado nenhuma solução, já que não contamos com o suficiente apoio do exterior (movimento alternativo ou libertário) para pagar um responsável pedagógico.
ANA > O que mais vocês fazem na escola?
Bonaventure < Neste ano organizamos cafés-filosóficos e animamos uma rede de intercâmbio de conhecimentos. No ano que vem inauguraremos sessões culturais: teatro, música... Faremos também cursos de alfabetização e organizaremos classes para os jovens que já não estão escolarizados. Também animamos um grupo de reflexão sobre educação e participamos de trabalhos educativos franceses e internacionais.
ANA > Possuem local próprio?
Bonaventure < Sim, temos uma casa que construímos em menos de dois meses, num mutirão libertário internacional, onde nenhum dos participantes sabia manejar uma palha. Isso nos trás boas lembranças! A casinha tem 100m², o material pesado (o primeiro computador, a copiadora e o micro-ônibus) foi comprado graças às assinaturas. Muito material foi oferecido. Tudo é propriedade coletiva da associação.
A escola fica na ilha d'Oléron, em Charente Maritime, uma cidade de 20.000 habitantes, com uma taxa de precariedade equivalente ao dos mineiros do Norte (Lille) e de Marseille.
ANA > Financeiramente, como funciona Bonaventure?
Bonaventure < A construção da escola e sua habilitação foram financiadas através da venda de partes da propriedade a 500 francos. Gastos pedagógicos, salários, eletricidade... são financiados através de assinaturas (correntes de apoio, doações...) e através da venda de produções de Bonaventure (folhetos, livros, adesivos, criações das crianças, cartazes...). A escolarização é gratuita, somente é obrigatória a adesão na associação.
ANA > Qual a dinâmica pedagógica de Bonaventure? Existem provas? Quais as disciplinas?Bonaventure < Bonaventure funciona sobre o modelo de uma classe única de pedagogia Freinet, mesclando nas classes idades e níveis. A escolarização se leva a cabo com base nos ritmos de aprendizagem fundamentais das crianças. Cada ciclo é trabalhado com projetos elaborados conjuntamente pelas crianças e os educadores, como um contrato. Durante e ao final de cada contrato, existem auto-avaliações que é exercida pelo próprio aluno, e uma pelo grupo. A escola, em conjunto, se avalia permanentemente através do "A.G.", e são avaliados também externamente por uma comissão chamada "de olhar exterior", formada por sociólogos, psicólogos, professores/as... que simpatizam com o projeto, mas não participam dele diretamente.
É distribuído material "tradicional" pela manhã; atividades artísticas, desportivas, manuais... pela tarde.
A participação na vida institucional da escola e sua gestão (autogestionária) fazem parte do processo educativo (aprendizado da cidadania) e por isso, se submete a avaliação.
O curso escolar, assim como a vida na escola, se efetua ao ritmo de acompanhamento, de ajuda mútua. Nos projetos, Bonaventure efetua regularmente visitas a diferentes estruturas (agrícolas, econômicas, culturais, sociais...) alternativas.
No final do período escolar, Bonaventure prepara as crianças para a entrada no colégio e, em caso de partida, antes que isso ocorra, ela é preparada para o retorno à norma escolar.
ANA > Vocês utilizam a televisão, computador, internet... como ferramentas pedagógicas?
Bonaventure < Nós não utilizamos bastante, como eu gostaria. Somente para trabalhos escritos para o jornal das crianças e correspondência escolar, trabalhos escolares com programas de informática, utilização de filmes relacionados aos assuntos tratados em sala.
ANA > Existe algum livro que conte a experiência de Bonaventure?
Bonaventure < Sim, existem três. "L'avant-projet: Bonaventure une école libertaire, pourquoi, comment", de Thyde Rosell e Jean-Marc Raynaud, já esgotado; "Bonaventure une école libertaire collectif", balanço de uma república educativa; e "La farine et le son", uma obra coletiva.
ANA > Existem outras escolas libertárias na França?
Bonaventure < Não, mas Bonaventure abrirá uma segunda escola na França, em Besançon. No começo será uma rede de intercâmbio de conhecimentos, sessão de alfabetização e, em dois ou três anos, uma escola libertária.
ANA > Vocês têm contato com a Escola Livre Paidéia, da Espanha?
Bonaventure <>

Retirado de: "
http://www.ainfos.ca/" ________________________________________________

Entrevista: Bonaventure, escola libertária.

Entrevista com os representantes da escola libertária francesa Bonaventure.

Bonaventure, vivenciando um projeto libertário em educação!
(Parte II)

Retirado de: <Date">a-infos-pt@ainfos.ca>Date Sat, 29 Jun 2002 03:13:15 -0400 (EDT)
______________________________________________________
Agência de Notícias Anarquistas-ANA > A escola funciona todos os dias?
Qual o horário?
Bonaventure < A escola funciona todos os dias, das 9 às 16:30 horas. Às
quartas ela funciona pela manhã e a tarde é livre. Temos os mesmos
horários das escolas francesas, por causa da demanda dos pais, pois
traria problemas para a vida das famílias ter crianças na escola com
horários fora da escola normal.
ANA > Vocês trabalham com os filhos dos imigrantes?
Bonaventure < Não, não há imigrantes em d'Olerón. Mas sempre temos entre
nós crianças recusadas pela escola dita normal: deficientes, com retardo
escolar, dificuldades sociais ou psicológicas. Nós possuímos quotas.
Somente 2 ou 3 crianças nessa situação entre 10. Senão nos tornaríamos
uma escola da "pobreza". Por outro lado, nós trabalhamos muito em
mudanças educativas com as escolas alternativas senegalesas.
ANA > Como repercutiu dentro da escola a chegada de Le Pen ao
segundo-turno das eleições francesas?
Bonaventure < Muito mal. Todos os militantes oleroneses de Bonaventure
pediram o voto para Chirac no segundo turno. Nós organizamos um debate
na escola e participamos de uma coordenação de associações cidadãs
d'Olerón. As antigas crianças de Bonaventure, agora adolescentes,
participaram das manifestações dos jovens.
ANA > O que é a Associação "Bout d'ficele"?
Bonaventure < Esta associação foi criada antes de Bonaventure e permitiu
a abertura da escola. Ela nos serve apenas para atuar junto aos bancos e
as administrações. Ela não tem vida associativa.
ANA > Somente um professor trabalha em Bonaventure? É o Estado que
determina a escolha desse professor? Qual o critério que utilizam? Esse
professor tem afinidades com as idéias libertárias? Expliquem um pouco
esse processo, pois não entendemos muito bem.
Bonaventure < Bonaventure não tem dinheiro o bastante para pagar quem
quer que seja. Temos somente voluntários. Uma pessoa que ensina na
escola primária, e um educador ou uma educadora. O Estado não intervém
em Bonaventure, todos os profissionais são militantes libertários ou
alternativos. Bonaventure se submete ao regulamento do governo.
Anteriormente tirávamos proveito de uma lei que permitia aos pais
"desescolarizar" suas crianças. Mas uma lei votada há 4 ou 5 anos anulou
esta fórmula, e obriga as famílias a matricular seus filhos em escolas
públicas ou privadas. Bonaventure lutou e resistiu à regulamentação
durante dois anos, mas hoje isso não é mais possível. Tivemos que
solicitar um estatuto de escola privada, o que permite ao Estado
controlar nossa escola. Nós temos que ter um diretor ou diretora
pedagógica responsável. Todos os professores militantes trabalham
igualmente na escola pública, e se eles se tornam diretores de uma
"empresa privada", eles perdem seu cargo de professor. Como não temos
dinheiro, não podemos remunerar ninguém. Como demandamos um trabalho
militante e todos os postulantes são professores na escola pública, nós
não encontramos ninguém até o momento para suprir essa carência. O que
faz com que não possamos abrir a escola no reinicio do período letivo
2002-2003. Temos ainda um ano para encontrar uma solução, senão seremos
obrigados a fechá-la definitivamente.
ANA > Quais os principais problemas para manter uma escola deste tipo?
Financeiro?
Bonaventure < Muitos problemas financeiros. Ao longo dos primeiros anos
uma rejeição quase geral dos militantes sindicais, pedagógicos e
libertários, valorizando as escolas do Estado e não vendo as escolas
libertárias, autônomas como laboratórios de práticas pedagógicas e
sociais capazes de promover um serviço social de educação.
ANA > Quais as diferenças entre uma escola libertária e uma escola
pública francesa tradicional?
Bonaventure < Em Bonaventure as crianças são as autoras de seu
aprendizagem e participam em todos os setores da gestão da escola. As
crianças com dificuldades (delinqüência, deficientes físicos ou mentais,
crianças que têm atraso escolar) são integradas e levadas muita a sério.
As famílias se integram na educação de seus filhos. Bonaventure está
muito aberta ao mundo exterior. Muitos interventores, não-pedagógicos,
vêm compartir seus conhecimentos. Em uma escola tradicional, inclusive
aberta, as crianças estão no centro do projeto educativo, mas não são
nem autores nem responsáveis por este projeto educativo. As famílias são
deixadas de lado, igualmente os não-pedagogos.
ANA > Os problemas mais comuns que se dão numa escola pública
tradicional (massificação das aulas, repressão, violência entre alunos e
com os professores, falta de motivações...) se vivem também neste tipo
de centros alternativos?
Bonaventure < Os problemas são muitos diferentes. As crianças se
responsabilizam, às vezes, em demasiado dos atos que cometem
(aprendizagem, gestão, cooperação e falta de normas na vida) e isso pode
chegar a ser muito duro para elas. O trabalho autônomo, sob a forma de
busca pessoal ou coletiva, as auto-avaliações, os trabalhos transversais
são difíceis de assimilar. Às vezes há quem não consegue ir bem nos
primeiros meses.
Existem, como em qualquer parte, problemas de normas de vida, mas todo
se negocia, é apresentado e é aceito. A violência é muito menor, as
crianças se explicam, negociam... Por outro lado, para as famílias, a
participação requerida é dura de levar ao longo de quatro anos.
ANA > Acabamos de ler "Frankenstein Educador", de Philippe Meireu. Nos
pareceu interessante, visto que considera que o objetivo final de toda
educação seria ajudar o aluno a construir sua liberdade, sua autonomia,
sem castigá-lo nem excluí-lo. Curiosamente, fala da educação como uma
aventura. É essa também a filosofia de trabalho de vocês, não?
Bonaventure < Conhecemos bem Philippe Meirieu, que assistiu uma de
nossas conferências. Não conheço o título do livro que mencionam, mas já
li várias obras de Meirieu. Nós pensamos que a liberdade, a
responsabilidade, a democracia, a experimentação e a criatividade não
podem ser aprendidas se não é vivenciando-a, experimentando-a,
equivocando-nos, avançando... Estamos mais próximos do movimento
Freinet, que dá de cara, um sentido social a educação. Esta liberdade
deve ser levada a cabo em todos os níveis da vida da criança e não
somente na classe. Por isso favorecemos os intercâmbios mútuos de
conhecimento entre as crianças. O adulto não está ali mais que para
aprender com a criança e não somente para ajudá-la.
No marco da experimentação o adulto experimenta também. Ele não é um
facilitador, ele se transforma num guardião da vida democrática e da
coesão educativa, ao qual não o impede de dar um marco cognitivo a
criança, mas este marco deve ser um suporte para a própria
experimentação da criança e não uma superestrutura rígida. Sob esta
perspectiva, não sabemos aonde vamos, mas o mais importante é a forma de
ir: o erro e o êxito de uma busca se converte assim no começo de uma
caminhada.
ANA > Em breve, Bonaventure estará completando 10 anos de vida. Nesse
período, o que mais marcou vocês?
Bonaventure < Na impossibilidade de criar alternativas reais, o
movimento libertário e alternativo fica muito no discurso ou nas
manifestações de rua, ou simplesmente nas reivindicações defensivas e
não criativas. Nós soubemos criar uma rede, já que estamos implantados
em uma zona rural, e somos pouco numerosos. A importância de valorizar
as famílias, de abri-las à militância social. A autonomia afetiva e
social das crianças que nunca estarão na excelência escolar, mas que tem
todos um percurso após Bonaventure exemplar, notadamente as crianças que
tenham as ditas dificuldades relatadas em outras respostas.
ANA > Quais são as perspectivas para este tipo de escola libertária?
Bonaventure < As escolas libertárias não têm futuro se não estão ligadas
a um movimento social e educativo alternativo. Demasiadas escolas
libertárias em todo o mundo estão fechadas em si mesmas, sem integrar-se
na busca coletiva de transformação social. Nós tomamos o desafio
inverso: vivemos por e para um movimento social, e tudo o que
experimentamos deve ser extrapolado (inclusive no marco da escola do
Estado) para construir uma educação a serviço de todos. Isto implica um
movimento social forte, o que não é o caso. Por isso Bonaventure perdeu
sua aposta de inicio, que era que esse movimento existiria e criaria
espaços educativos alternativos. Nos encontramos sós no seio do
movimento libertário francês. Sobrevivemos, mas essa sobrevivência será
viável em longo prazo? Não sabemos. Ainda assim, mesmo que o movimento
libertário francês não apóie Bonaventure (quiçá por causa da sua rigidez
organizativa, por que o movimento se contenta só em se opor, e não em
construir, porque há cada vez menos lugar na Europa para iniciativas
sociais etc), teremos tido o mérito de replantar a problemática
educativa no seio do movimento libertário, alternativo e sindical. Por
outro lado, o conjunto de pessoas, crianças ou adultos, que percorreram
um pouquinho deste caminho, se enriqueceram (e nós com eles) nesta
aventura, com suas coisas boas e ruins.
ANA > No Brasil não existe nenhuma escola anarquista. Contudo há
projetos de se criar uma em São Paulo. "Vários" compas estão envolvidos
com projetos de educação libertária, antiautoritária, tipo cursos de
alfabetização de adultos (o analfabetismo é muito grande no Brasil),
cursos preparatórios para alunos carentes tentarem ingressar em
universidades públicas, grupos de estudos etc. Nos últimos anos, mais de
uma dezena de livros, dissertações e teses sobre educação anarquista no
Brasil e/ou Pedagogia Libertária foram apresentadas. De alguma forma, as
idéias anarquistas em educação estão bem representadas por aqui.
Bonaventure < Ficaremos muito contentes de travar contatos com estas
pesquisas educativas libertárias, pois tentamos fazer o mesmo por aqui
na França, nos ponha em contato com eles, a título pessoal. Eu sou
responsável pelo setor de educação popular de Bonaventure, e trabalhamos
seriamente com as escolas, grupos de jovens e mulheres do Senegal. Sou
responsável pelo setor internacional do ICEM-Pedagogia Freinet e
desejamos colaborar com os pesquisadores do Brasil.

Bonaventure, Centre d'ecution Libertaire
35 Allée de L'Angle, Chaucre
17190 Saint Georges d'Oléron
França

http://perso.wanadoo.fr/bonaventure
bonaventure@wanadoo.fr

Colaborou: Eva Vela Bru, Valencia (Espanha) e Allyson Bruno, Fortaleza
(Brasil)
Agência de Notícias Anarquistas-ANA

"Educai as crianças e os homens não pagarão impostos."
Anônimo

Christiania


Christiania - A Lenda da Liberdade10/12/2005 13:21

No coração gelado do capitalismo europeu, na fria Copenhagen, Dinamarca, uma comunidade de 10 mil pessoas vive num outro compasso. Cristiania não tem prefeito, não tem eleição e funciona sem governo, sem imposição de leis que controlem a organização social. A lenda da cidade-livre da Dinamarca é real: inspirada no Anarquismo, Christiania resiste há mais de 20 anos, inventando um jeito novo de conviver com os problemas da vida comunitária. Limpeza das ruas, rede de esgoto, manutenção dos serviços básicos, tudo é decidido e feito a partir de reuniões entre os moradores da cidade. Eles se definem como uma comunidade ecologicamente orientada, com uma economia discreta e muita autogestão, sem hierarquia estabelecida e o máximo de liberdade e poder para o indivíduo. Uma verdadeira democracia popular direta, onde o bom senso e o diálogo substituem as leis. No Brasil, poucos conhecem a história da cidade-livre. O TESÃO vai contar, com exclusividade, a lenda da liberdade. Christiania começou a escrever sua história em 1971. Foi a partir das idéias de um jornal alternativo, o Head Magazine, que um grupo de pessoas, de idades e classes sociais variadas, decidiu ocupar os barracos de uma área militar desativada na periferia de Copenhagen. Era o início de uma luta incansável contra o Estado. A polícia tentou várias vezes expulsar os invasores da área, mas sem sucesso. Christiania virou um problema político, sendo discutida no parlamento dinamarquês. A primeira vitória veio com o reconhecimento da cidade-livre como um "experimento social", em troca do pagamento das contas de luz e água, até então a cargo dos militares, proprietários da área. O Parlamento decidiu que o experimento Christiania continuaria até a conclusão de um concurso público destinado a encontrar usos para a área ocupada. Em 73 houve troca de governo na Dinamarca e a situação de radicalizou: o plano agora era expulsar todos e fechar o local. O governo decretou que a área seria esvaziada até o dia 1º de abril de 1976. Na última hora, o Parlamento decidiu adiar o fechamento de Christiania. A população da cidade-livre tinha se mobilizado para o confronto com o Estado, mas a guerra não aconteceu. O dia 1º de abril tornou-se o dia de uma grande manifestação da Dinamarca Alternativa. Ao longo dos anos, a cidade-livre aprimorou sua autogestão: casa comunitária de banhos, creche e jardim de infância, coleta e reciclagem de lixo, equipes de ferreiros para fazer aquecedores a lenha, de barris velhos, lojas e fábricas comunitárias de bicicletas. A década de 80 foi marcada pelas drogas. Em 82, o governo começou uma campanha difamatória contra Christiania: a cidade-livre era considerada o centro das drogas do Norte da Europa e a raiz de muitos males. A comunidade teve então que organizar programas de recuperação de drogados e expulsar comerciantes de drogas pesadas, como a heroína. O mercado de haxixe continua funcionando normalmente. O governo dinamarquês nunca deixou Christiania em paz vários planos foram elaborados visando a "normalização e legalização" da área. Em janeiro de 92, finalmente um acordo foi assinado. Christiania já tinha mais de vinte anos de independência e provara ao mundo que é possível viver em liberdade. Mesmo com o acordo, o governo ainda tenta controlar a cidade-livre. A resposta veio no ano passado, com o lançamento do Plano Verde, onde os moradores de Christiania expressam sua visão de futuro e que rumos tomar. A lenda de Christiania continua sendo escrita.

domingo, 6 de janeiro de 2008

A vida é uma frase e cada amor uma palavra.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Só não conversa com os animais, aqueles que só sabem se expressar com a boca.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

As vezes tentamos enganar à nós mesmo, e caímos naquela sensação de que estamos correndo de olhos fechados, com a certeza de que seremos pego de surpresa. Coisas da natureza de um sonhador, que mente a si mesmo afim de reproduzir os sentimentos mais sinceros.