sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
É estranho dizer que nascemos um para o outro, apenas nascemos, sem donos nem posses. Um para o outro é comum e monótono, e reciprocidade é coisa de amor platônico. Essas pessoas que visívelmente se amam não seriam como os passáros, que distânte da nossa conciência de individuo, apenas ilustram uma bela tarde de verão?
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
EDITORIAL
A GAVETA
A GAVETA
APRESENTAMOS: APRESENTA-NOS
o Fim da Norma e do Domingo De Carlos Drummond de Andrade
[...]Abomino a ordem
que confisca o tempo,
que confisca vida
e ensaia tão cedo
a prisão perpétua
do comportamento.
que confisca o tempo,
que confisca vida
e ensaia tão cedo
a prisão perpétua
do comportamento.
domingo, 24 de fevereiro de 2008
Domingo no pasto
achei...
cadê?
achei!
achei também
deixa eu ver?
mais um
será que é?
vários!
...cade a sacola?
tá bom já, vamo ae!
cadê?
achei!
achei também
deixa eu ver?
mais um
será que é?
vários!
...cade a sacola?
tá bom já, vamo ae!
sábado, 23 de fevereiro de 2008
Conto tridimensional No. 3
Nas pontas, estava sem qualquer força - que pouco tempo antes (quando ainda sentia-se dentro [era o tal {o centro de tudo} de qualquer lugar em que andasse] naquele todo) tivera de sobra - de voltar a enfrentar o mundo, da extremidade.
Cuidado com a neblina
Esse texto tende a se encaixar no primeiro número da "A GAVETA", a revista que estamos processando...
O principal jornal da maior rede de TV do país anuncia aquilo que ela chama de revolução na tecnologia esportiva: um tênis para jogar futebol de areia, feito de um material emborrachado, tem o formato para encaixar os dedos, não queima as solas dos pés na areia quente e mantém a mobilidade do jogador. Um exemplo claro de como o mercado age: criando necessidades através de novos produtos. Imagine o carioca em Ipanema, batendo uma bola na praia com seu tênis laranja e verde-limão (a cor do verão), coisa impensável até ontem. Os pés já acostumados nunca exigiram tal produto, mas agora que ele está nas vitrines da TV é muito provável que a próxima geração de futebolistas de areia não consiga sobreviver sem. A nova mercadoria se coloca entre os pés e o jogo, sem ela fica agora impossível os primeiros chegarem até o segundo. Essa intermediação é uma necessidade criada, assim como é um incentivo à fraqueza dos pés, à diminuição de suas atuais potencialidades. Talvez, na próxima geração, jogar sem os supersapatos já pertença ao nível do impensável, como matar seu boi.
Essa intermediação de produtos criou homens como os de hoje, passivos, domesticados e com o ímpeto ativo e criativo atrofiado. Sentam e esperam a próxima mercadoria que irão desejar, vinda de uma esfera que lhes parece transcendental de tão distante e intocável. Tal intermediação espetacular cria uma neblina entre o querer e o fazer, entorpece a imaginação e a criação. É só observarmos o exemplo da ação política: agrupar-se com seus iguais, fazer valer uma opinião de grupo, se relacionar com os engravatados da política se torna um ato impossível, a maioria encara tal possibilidade como digna de riso. Os mandos e desmandos se dão em esferas espetaculares, quase em outra dimensão. “O que é uma voz reclamando, apontando dedo, berrando, para uma burocracia tão gigantesca e hierarquicamente estruturada?” Perguntam os cabeças-baixa. O que a burocracia transmite como possibilidade é: escreva suas reclamações nesse formulário aqui, volte ao seu juntar dinheiro diário e espere, a solução de seus problemas um dia virá lá da outra dimensão e quando vir você a consome como o bom burguês amorfo que é, assim como consumiu os supersapatos verde-limão e o bife branco da vitela.
A mesma intermediação é superposta na criação intelectual: para escrever teses o raciocínio de quem a concebe tem de estar mediado por citações já autorizadas pela academia, para criarmos temos de encontrar alguns autores legitimados que já escreveram o que havíamos pensando, consumi-los citando-os e comentando-os, daí então estamos também autorizados a escrever as tais idéias. Criação não há, o que temos aqui é o estímulo à reprodução e, ainda, a intromissão de pensadores-guias indicando o caminho a percorrer. Tudo nos apresenta como pré-construído em outra esfera que não a que estamos e nos é oferecido através das propagandas e da violência oficial para que consumamos passivamente: mercadorias, ordens, informações, idéias, editais – quem os escreve? quem os cria? mal sabemos, vêm e são inquestionáveis –, Lula, verdades, mentiras. Veja: é uma imposição sermos brasileiros, aceitar uma nacionalidade e toda a sua instituição só porque nascemos nos limites de seu território, conquistado – sabemos – a um custo (de sangue e dor) muito grande e mantido por outro enorme preço. É uma imposição o calendário instituído: os feriados, a estrutura da semana; e quem decreta o horário de verão? Ninguém sabe, mas é só a TV avisar que todos correm atrasar o relógio, nem precisa coerção, só o aviso basta, tal a domesticação e passividade no consumo. O próprio espaço social é mostrado como pré-determinado, o que devemos fazer é preenchê-lo, a propaganda e a burocracia oficial só apontam as vagas, se vire e dê um jeito de entrar. Os impostos são dignos de seu nome, mas é pago religiosamente em todos os momentos do cotidiano. A neblina é tão densa que a maioria obedece, sem levar em conta suas próprias singularidades, a sua própria capacidade de agir livremente, de criar novas e múltiplas ações, novos espaços.
O papel – assim penso – de quem percebeu todo esse espetáculo sendo superposto e, principalmente, de um professor é aprender novamente a aprender, estranhar toda essa fantasia, despistar tais neblinas, redescobrir a pluralidade de experiências e das interpretações, perceber quem e o que está amorfo e o mais penoso e mais digno: arriscar o vômito do novo. Assim, será capaz de segurar nas mãos de quem quer ajudar e reensiná-lo a bater as pedras e a girar os tocos para que saiam as faíscas que recriam o fogo no galho seco. A chama do novo que não inebria e expulsa a neblina fria, da mudança, do devir, do superar dentro do eterno recriar.
O maior crime (em minha míope visão de justiça) da Escola atual é não incentivar, ou até inibir, o ato criativo, a criatividade, a busca pelas brechas de ação, o novo que brota o diferente, a contestação, a mola da transformação. Tiram a expressividade da criança, transformam-na nesse ser inexpressivo, que tosse, cheio de travas, neuroses, preocupações e pêlos pelo corpo que chamamos de adulto. Parece que nela ninguém ensina nem estimula, por exemplo, o olhar enviesado para as imposições do Estado e para as dez empresas que buscam oligopolizar os meios de informação que nos chegam, e se algumas Escolas chegam a fazer tais críticas é micróbico o número delas que estimulam a ação e a criação direta da própria mídia. Se não concorda com os caminhos da mídia que o rodeia, crie a sua. Coloque em todos os postes, mande por correio e por toda a internet, coloque embaixo da porta do banheiro do deputado, como canta Tom Zé. Se não concorda com o Alcorão, escreva outro. Pinte seus quadros num pedaço de estante quebrada com uma rolha queimada e giz de cera. Componha suas músicas com o tambor de lata ou a flauta de cano PVC. Plante suas verduras e seu tabaco. A maioria não cria nada com o mínimo que tem, por que reclama mais, então? Busque a linha limite daquilo que há de possível, quando tentar dar mais um passo e for impedido aí então perceberá de frente aqueles e aquilo que lhe inibem – na maioria dos casos é só preguiça ou medo –, só então poderá pensar em estratégias de luta. Lembre-se: para quem pertencia a uma família nuclear de assalariados amorfos de classe média e alienados a ditadura militar quase nem existiu, mas para quem tentou abrir as asas e garantir suas idéias de liberdade ela era quase onipresente. Não deixe ser intermediado, isso lhe deixa cada dia mais fraco, como os pés descalços da futura geração de futebolistas de areia.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Conto tridimensional No. 2
Joana, segundo me contaram - porque não sou de mexericar na vida de ninguém (nem de minha filha [a mais nova {a outra... como dizer... já casou} das lá de casa] nos seus mexericos) que não peça - lá embaixo, depilou tudo!
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Trotava pelo bar, perdido em meio a tantos rostos iguais, todos tortos e banais. De repente vi um rosto diferente, estava atrás de uma vadia enquanto tocava a nossa melodia, tropecei no balcão e disse ao garçom, Traga-me uma cerveja, trincando! Trouxe um copo e tirei três de um, trocaram nossa musica, acho que era travis, colocaram tribalistas, tamparam o seu rosto, também, varias tretas, todos trêbados. Acendi um cigarro, terminei o copo e chamei o garçom, meio perturbado, dei um trago e perguntei, Cadê meu troco?
Noites insanas
Noites insanas
Noites em cenas
Talvez obcenas
Mas não passam de camas
Noites insanas
Noites em cenas
Que pessoas condenam
Sem saber dos dramas
Noites insanas
Noites em cenas
Apesar de pequenas
Ofuscam as chamas
Noites insanas
Noites em cenas
Aumentando os edemas
Afogado na lama
Noites insanas
Noites em cena
Sem ter a pequena
Que meu peito clama
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Conto tridimensional No. 1
Tirando-lhe de sua desatenção cotidiana, aquele menino jogado no chão - parou com os olhos estalados (sentira algo [aquilo que o faz ser {essência} ele mesmo] vindo de dentro através de um vômito) sentindo como que um embrulhar - com sangue saindo pelas narinas, o fez chorar de alegria de perceber-se vivo.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
dorme em paz
Não seria esse banho demorado em que acabou de sair, este cotonete na orelha e a extrema proteção de si mesmo o medo de que uma, especificamente, entre tantas transformações, aconteça? Aquela que muitos não ousam dizer, nem fitar: a morte? Mesmo sabendo que é dos mais profundos calabouços deste medo que exala o fedor de um desejo, já velho e reumático, caçador de um farelo fugaz de eternidade? Ou seria uma preparação para um dia longo que lhe faria morrer abençoando a exaustão que sentiria, quando jogasse seu corpo metamorfoseado na cama, esperando mais um dia?
A eternidade é um erro conceitual que nos leva a esquecer o caminho singelo até a morte. Desacredita-nos de sua busca. Como ver vida pulsando num rosto que escarra suas próprias mortes, antes de se quer convidá-la para dar uma volta? Ou, até, dividir a cama, quem sabe?
A eternidade é um erro conceitual que nos leva a esquecer o caminho singelo até a morte. Desacredita-nos de sua busca. Como ver vida pulsando num rosto que escarra suas próprias mortes, antes de se quer convidá-la para dar uma volta? Ou, até, dividir a cama, quem sabe?
sábado, 9 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
sábado, 2 de fevereiro de 2008
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