terça-feira, 4 de outubro de 2016

A infância sempre esteve aí.
Tudo tem infância. A noite tem infância... Assim como tudo tem velhice.
Não é um privilégio humano. Ou animal.
Nem uma situação que se passa e não volta.
A infância é o bem cedinho de tudo.
Está sempre, é uma maneira de manifestação do mundo.
Qual é a infância da palavra?
Quando ela é recém saída da não-existência e se assombra com  que encontra e tenta dizer tudo de uma vez? Ela é aberta.
A palavra na sua infância – ainda nem na boca – quer dizer sobre tudo, que na sua intensa abertura desafetada de traumas-regras-paradigmas-intensões, sente.
A palavra na sua infância diria quase junto com os sentidos.
Qual a infância dos sentidos?
Não são momentos que se passaram. Estão sempre aí, nem vão nem retornam. A infância está, agora. Acontecendo. Sempre. Inaugural e inédita.
A infância da grama, do poder, da tristeza, da noite, da alegria, da manhã, do instante, do que não-é e do que é.
Que eterno a infância de um átomo!
Como é a infância de um desejo? De um que vem em vão. Vêm e vão.
Pra entender o mundo, tem a infância do pensamento, é ali que se conecta bem próxima com o mundo, é ali, ah lá, é ali, estará sempre ali.
E se olhar no fundo de dentro dos olhos profundos de qualquer bebê, que seja o bebê da grama, do pedido, de uma confissão, do metal, do choro, do dinossauro, da ideia, qual seja... vai ver que a velhice não vem depois, que acontecem ao mesmo tempo, na mesma manifestação, neste beijo inseguro.
Tudo (você-nós) vive a infância da velhice, sustenta a velhice da infância, é velho e infantil.

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