O besouro do planeta romã
A romã tem uma teiínha de arãnha em
sua coroa de bufona. Ali passeava um minibesourinho cor de tesouro. A romã
amarela com as bochechas rosadas salpintadas. Ia explodir de tanta vida, por
isso era até planeta pra outras vidas... o planeta romã, onde viviam os
romanáticos, nunca conheceram a dor-de-garganta.
Um dia, voando do céu pousaram uns
bicudinhos. Trilinciscaram arrunhando furo no cheeião da romã. Piavam agudos
afinadinhos fininhos num assobio-bio-bio tremilicadinhos drilho-drilho,
pareciam piar "dá romã, dá romã, drrr, dá romã". E o romã se abria
todo vaginal lábio, embicavam. Caiu que de repente aquele besourito, tão
esplêndido qu'ouvesse daquele formato serzito-vivo com cabeça, casco, patinhas,
antenas, movimento, tudo, e ali, quase um quase-nadinha vivendo seu cotidiano,
carregando seu minizinho-coraçãozeto pelo seu cotidiano, como todo vivo, como
todos nós. Pois, foi esse besouretito que desequilibaralhado caiu-se. Láá em
baixo......
.......o cair foi longo susto
incompreensível e repentino, inédito. Biz-bizou o inseteco enroladinhas no
arbismo em velozqueda, afofando o baque do impacto com o duro que o chão tem
n'uma brisinha de instante antes com a abertura - sagazmente - das asinhas cor
di'ouro-cobre rubi fosco, arredondadasinas, abridas, pousou suave.
Mas, assustado.
Aflito que olhou pra cima a
distância altássima a romã lá em cima. Aberta, bucho pra fora as sementes de
películas transparentes, algumas tinham caído a sua volta. Deu uma volta com o
olhar e sentiu com as anteninhas o espaço vasto ao redor. O que seria tudo
aquilo?
...a partir daqui é mais tensa nossa
história, não sei se escondo parte dela ou ela inteira. Talvez melhor nem
continuar nesses assuntos, talvez melhor te ocultar a respeito daquela visão
imensa que o besourito teve... e da luz... tinha uma luz, atrás daquele imenso
ser que pairava no ar, melhor não te amedrontar com o que aconteceu... Vou
contar só um tantinho...
O mundo se revelou imensamente
misterioso e no alto da cabeça do besouro batia uma alada, asas ex-lagarta,
largas amarelas de textura fina como folha-de-cetim, amareláá, amarééla, amá!
Que medo.
Besourinho se encolheu, era quase cisco, ou
isso cisco, naquele medonhomedo que se assombrava porali... e saiu, a
borboletona pra outros baixos céus... flapt, ufa daqui, flapt, ufa de lá,
porque os dois um estava assustado c'outro: num desencontroutro bagunçante.
Demorou o a si do desromãnizado besoureco despencado. Quando já, patinhas
parando de tremer, dedebaixo das folhonas sucolentas di'uma berdoega que havia
se escondido num instante, re-reparou lá luz, parou hipnóiatizado...
...quanta paz violenta os
ultravioletas lampadiavam nos olhos, zzzureta. Como abduzido, zizou duro asando
na fixidez que a luz propunha sem possuir querer só ela luz. Foi
arredondeninhando o calor, do brilho, mais brilho, o calor... que força
intencinédita pro bichinho! Sentia o desaparecer. O todo-luz? Mais que luz?
Vibrava em grau rachável, tremelecou: o casco duro do besoureto deu toc curto
no vidro da lâmpada? E de altura que voou tombou, virado... agoniado, ou se
divertia?
Uma sombra imensa no contra-luz
tapou-lhe o sol, nem reparou nisso naquela. Já ficava sufocado de umbigo pra
cima casco pra baixo, as patinhas acariciarranhando o arimpalpável céu acima,
enquanto fazia inúteis voltinhas, que de começo parecia-lhembravam uma
desengondançazinha e que agora estavam mais para sufoco mesmo quase divertido.
E o que d'ond'veio aquela montanha - com cabeça olhante e orelhas? - que fazia
sobra de sombra e mais sombra pela geogramafia d'ao redor? Gigante mitoilógico,
descrível pelo bizbichinho se ele notasse, mas não notava (mas, vai notar,
calma).
O que notou arrepiado, tentando
desespero, foi uma minhoca cavando bem. Escorregava arejando a terra logo ali e
vinha britando lisa e rápida em direção dele. O quê!?! Dele. Dele? Sim, dele
dele.
A minhoca olhou co'seus'olhos cegos
e pulsou seus dez corações - que carregava em seu cotidiano, como todos nós
unicárdios. E, com tanto coração, compriiiemdia o besourico em ponta-cabeça no
seu dificuldadestino, e sentia muito mais pra todo lado e foi o que fez ela
escorregar cavando pr'um lado dos lados, tranqüila após uma assembléia interna
da dezena cardíaca que morava junto ao alongado-esticaaado peito fino. A mesma
paz tinha nos sentimentos do bizzzouro tons d'ouro. Tudo já vem explicado
nestes territórios do mundo e da vida porque se sente e quase é só, se o mundo
deve ir pra lá ou pra colá pro besouro isso não lhe cabia, nem praqueles fungos
esparramados ali do lado, cabia o mundo e a vida como eram, não tiravam
opinião. Daí o dançar naquilo que seria sua ponta-cabeça-posição fatal,
indesvirável se não fossem aqueles dedões... dedões que cutucavam pra
desvirá-lo, de leve pra não machucar. Cutu... cutu... cutu... Pondo intenção
essa às suas mãos uma meninalinha magrelinha de dedinho-dedões, cabelões, enroladões,
também o nariz e bicudinha. Murmumurava e sussussurrava com ela mesma questões
além-óbvias, além-ela, algo sobre a morte e detalhes supremos transparentes,
trilhava em etecéteras e tais, pairava anuviada. "Jussara", nem ouviu
a mãe dando tchau, "já volto!".
E quem liga pra um inseto só assim?
Vai que alguém, melhor seguir pro desfecho do real que passou da história tão
acontecida. E o que se já se passou é real?
Sente: numa solavanrancada, ajudada,
se esticou contorcionista e se desvirou, saiu que veloz dali escorregando às seis
pernazinhas aflitas no piso liso cor vermelho-terra. Ia corria na direção da
sombra d'uma raiz... mirou pra cima e mijou pra baixo, era uma árvore
encarável, de tronco durão manchado nas melaninas do casco elegante, no alto os
galhos se enredavam nas folhas da romãzeira, lembrou o besouro sua época de
ouro... talvez sentisse saudades – essa vontade que cai num buraco e se machuca
com o vazio que topa – talvez encontrasse outro fruto tão cheio de vidasplendor
como sua romã terra natal, se caminhasse...
...valia a pena, a asa, o casco
exausto: o vôo. Deu pra chegar até quase a metade nesse impulso repentido do
resto que tinha (e se foi) de foco, calma e força - onde é que exista um
reservatório dessas imanações invisíveis fundamentais, quase vazio estava.
Tinha de respirarvorecentrar antes, um pouco.
Ainda ali, viando o ar, deixando as
energias enigmaticamente auto recriarem-se – como eternamente – pro corpo
continuar seu exercício de gastá-las. Ali, naquela típica
renigmatiquenergização percebeu o pássaro pescossudo, albino, que lh'olhava
como encara, mira, olhos vermelhos glaciais bisonhas glândulas, de cima de um
muro.
Viu – do meio do tronco – ainda... viu, do
verbo sentir, a menina ainda voltar procurando e achando um outro besouro
dêdebaixo alá do tijolo velho. Achava e se enganava qu'era o mesmo bicho ou
servia-lhe mexer com idêntico apenas só?
Mexeu foi às asadas o pássarossudo,
decima do muro, chiou ronrouco parecendo engasgado, mas era assim mesmo o
soturno: penas meias esfrangalhadas alvas-encardidas, uns patões de pé mais
estranhos. No tronco pousou atravessando, abordante, o caminho do bizzouro, sem
deixar brechas bicou seco.
T'um.
Dois.
Em cima. Dentro.
A primeira rasgou o peito e umas
patas, a segunda pregô-o moído no galho.
T'rês.
Na terceira mastigava-o na ponta do
bico.
Ali ameaçou pouca esfacelada
resistência que logo desistiu sem gássss vital... Acolheu... entregou... viu a
vida que a morte lhe trazia e expirou... acalmado.
E o passarego, levemente mais
pesado, alçou vôuô desnivelado, para fora de nosso cenário. E lá.